Imunizar população de 18 a 50 anos é grande desafio, dizem médicos

Faz pelo menos quatro anos que a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, acorda e dorme com uma questão na cabeça: como convencer os adultos a se vacinar? Passada a infância, as pessoas dificilmente voltam aos postos de saúde. Mas, hoje, é justamente a população adulta que preocupa: muitos dos que têm entre 18 e 50 anos não tiveram doenças como sarampo ou caxumba, nem tomaram todas as doses necessárias para se proteger delas. Logo, diferentemente de crianças , que em sua maioria estão vacinadas, e dos idosos, que estão imunizados ao ter essas enfermidades, a população adulta representa uma “janela” perigosa.

— Isso faz deles uma porta de entrada para epidemias — diz Isabella. — No caso do sarampo, por exemplo, estima-se que, entre os adultos, a cobertura seja de somente 5%. O cenário é de uma catástrofe em potencial.

A vacina contra o sarampo foi incluída no calendário nacional de imunizações na década de 1980, mas, até 1992, apenas uma dose era aplicada. Portanto, é provável que só quem nasceu depois desse ano tenha recebido a segunda dose — que garante eficácia de 97%. Assim como nesse caso, a imunização para outras doenças também passou por modificações, seja no número de doses, seja na idade para a aplicação. Além disso, muitas vacinas sequer existiam há alguns anos.

Algumas vacinas, como a BCG e a do rotavírus, são destinadas apenas a crianças. A primeira protege contra as formas graves de tuberculose que são perigosas especialmente para bebês. Além disso, existe tratamento para tuberculose com medicamentos oferecidos pelo SUS, para aqueles que contraírem a doença mais tarde. Já a segunda vacina é uma proteção contra diarreias comuns entre crianças de até 5 anos. Portanto, quem não tomou essas doses na infância não precisa mais se preocupar em tomar.

Outras vacinas, no entanto, são fundamentais mesmo para adolescentes e adultos. As doenças que mais podem afetar a população como um todo são o sarampo, a rubéola — especialmente as grávidas —, as hepatites A e B, a febre amarela, a difteria e o tétano. Deste modo, a recomendação dos médicos é que todos os indivíduos estejam em dia com as vacinas correspondentes. No caso de difteria e tétano, que para crianças fazem parte da imunização da pentavalente, para adultos estão disponíveis nos postos de saúde em forma da vacina dT.

— Enquanto, com determinado número de doses, as outras vacinas protegem por toda a vida, no caso da vacina da difteria e do tétano, as pessoas precisam tomar uma dose a cada dez anos. Quase ninguém faz isso — diz o médico Alberto Chebabo, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Ele ressalta que, para quem acha que não tem disciplina para guardar por muito tempo uma caderneta física, uma boa alternativa é usar aplicativos de celular que têm essa funcionalidade.

— Muitos aplicativos de saúde permitem que se insira o histórico de vacinação. Embora o cartão físico seja necessário para qualquer comprovação oficial, o app pode ser de grande ajuda no dia a dia — aconselha Chebabo. — Se, ainda assim, houver dúvidas, é melhor se vacinar. Não há problema em tomar doses a mais.

 

FONTE: O GLobo